terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"A cabeça é meio e não fim" (Caapora). Desculpe-me pela ausência.

Amável leitor,

Hoje é dia 10 de janeiro de 2012. O tempo é um recurso precioso. Usá-lo com parcimônia demanda razoável maturidade, por isso, não tenho conseguido aproveitá-lo da maneira como gostaria. Sem querer arranjar uma desculpa, mas já me desculpando de qualquer forma, ainda estou aprendendo a respeitar esse Senhor, cuja autoridade invisível, mas não imperceptível, guia os caminhos de todos nós. Paulatinamente, percebo a importância de viver plenamente o agora. Não quero me obrigar a estar em todos os lugares. Não quero urgência. Prefiro contemplação.

Sim, reconheço uma dose de “paulocoelhismo” no parágrafo acima. Nem sempre é possível escrever bem, ou com profundidade. Para sua infelicidade, sou uma pessoa superficial e que sofre de dislexia.

No intuito de abrir esse relato, se você me permitir, gostaria de falar de trabalho. Minha relação com ele sempre foi de amor e amor. Felizmente, até agora, tive muita sorte em todas as etapas profissionais da minha vida.

Sou graduado em Letras (grande merda, como diria Rodrigo e Diego) pela UFPE. Durante seis anos, fui professor de Redação, Literatura e “Gramática”. Ainda dou aulas, à noite, em um cursinho preparatório para concursos militares. Meu DNA é totalmente marcado pela licenciatura. Praticamente, todos os meus tios por parte de mãe, e minha genitora também, são professores. Pois é, poderiam ter estudado mais e feito um concurso público decente? Poderiam. Mas isso não interessa, o importante são as escolhas que fazemos. Caro leitor, não preciso fazer graça com essa profissão, uma vez que a maneira como ela é tratada no Brasil já é, por si só, uma PIADA. Se você não acredita, lanço um desafio: pegue o contracheque de algum docente e tente não rir por cinco segundos. Tá vendo? Em pessoas mais sensíveis, esse tipo de exposição causa uma depressão profunda, seguida de um sentimento de pena gigante. O pior de tudo é que a lógica perversa que guia a educação no Brasil é a seguinte: “se não não tá contente, pede pra sair, porque existem “trocentos” aí fora afim de entrar no seu lugar, bonitão”. Caso você não saiba, os professores formam a maior categoria profissional do país. A lei da oferta e procura, base da competitividade mercadológica, é usada de modo cruel nesse tema.


Insatisfeito com as condições de trabalho impostas por muitas escolas, mudei de área assim que surgiu uma oportunidade. Não foi uma traição, isso eu posso assegurar-lhe. Tornei-me revisor/redator de textos oficiais e corporativos em uma fábrica de software. Também sou responsável por redigir os manuais dos sistemas que desenvolvemos. Hoje em dia, além das atividades citadas, sou analista de qualidade. Dessa forma, saí do ambiente escolar, mas nunca me afastei da minha paixão: a Língua Portuguesa. Justificativa dada, podemos seguir adiante?

Calma, ainda não é a hora de falar sobre a minha rotina aqui. Antes, é preciso tecer alguns comentários acerca do lugar onde labuto no Brasil. O meu trampo é FODA! Eu sou um cara de muita sorte. Depois de passar por colégios muito bacanas (se alguém do CFI estiver lendo, por favor, manda uma abraço gigante pra Fabiano, O professor) cheguei a uma empresa que mede a produtividade não em horas, mas em sorrisos. Sem frescura, as pessoas da “firma” são fantásticas. A galera do desenvolvimento num trabalha pouco não, vu? A turma é terrorista. Minhas companheiras de sala, Dani e Day, são a materialização da palavra fofura e meus chefes, Ricardo e Regina, são a cereja do bolo. Leitor querido, se você gosta dessas correspondências, agradeça aos meus superiores. Sem a confiança e estímulo incondicional desses dois, eu provavelmente não estaria aqui. Não é babação, não preciso disso. Penso assim, para agradar meus chefes, não necessito ser bonzinho ou piadista. Preciso ser competente. Aprendi com eles ( e com Andréa Nobre) que TUDO na vida deve ser feito de corpo e alma. Vai fazer algo? Se jogue inteiramente naquilo. Coincidentemente, vim trabalhar em uma ONG cujos diretores pensam da MESMA FORMA. Essa é a razão pela qual a CECO é tampa de crush! (eita que essa é véa, né?). Pelo mesmo motivo, exigência na qualidade do trabalho apresentado, estou lascado de coisas para fazer.

Como havia uma lacuna em um dos projetos daqui, mudei de área de atuação. Agora estou envolvido com o tema “Mudanças Climáticas”. Resumidamente: tenho um artigo para escrever sobre “Mudanças Climáticas, Agricultura e Emissão de Gases Prejudiciais ao Meio Ambiente em Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento.” É TROMBA! O assunto não se resume a aquecimento global, fique tranquilo. Mudanças climáticas são naturais e ocorreram durante toda a existência da Terra. Períodos glaciais e épocas mais quentes alternaram-se durante a história do planeta. O problema é como essas mudanças estão sendo afetadas pelo comportamento do homem e quais as consequências que elas poderão ocasionar para as gerações futuras e para outras espécies de vida que aqui habitam. Principalmente para pequenos agricultores e pescadores, as alterações dos ciclos climáticos, das durações das chuvas, das secas e a diminuição ou extinção de determinados ecossistemas têm prejudicado amplamente suas atividades; Esse fato tem chamado a atenção das autoridades de todo o mundo. É TENSO. Basicamente, tenho que comparar os dados oficiais de países desenvolvidos e em desenvolvimento acerca da emissão de gases prejudiciais à natureza. Hoje há uma pressão enorme em cima de nações como Brasil e Índia, para que diminuam suas taxas de emissão. Mas ao analisar a história desse problema, percebe-se que essas nações em quase nada (na verdade, descobri que o Brasil bota quente na emissão oriunda da agricultura) contribuíram para a formação desse quadro catastrófico. A maior parte da culpa recai sobre as economias de primeiro mundo que, desde a revolução industrial, lançaram toneladas de gases tóxicos na atmosfera. O bagulho é doido, porque envolve MUITA POLÍTICA e MUUUUUITOS INTERESSES ECONÔMICOS.

Para elaborar o texto, tive que recorrer a um mói de fontes. Sou leigo no assunto, então, nada melhor do que mergulhar em artigos científicos para não passar tanta vergonha na hora de escrever. Estou tendo um pouco de dificuldade, pois o documento é em Inglês. Deixe-me ser sincero, fiz dois anos de curso, mas parei aos 15. Fazendo uma conta mais difícil do que uma derivada, eu constatei que estou há DEZ anos afastado da língua. Excetuando o primeiro período da faculdade, em que cursei Inglês 3 por quatro meses, há muito tempo não precisava me preocupar com gramática e coisas afins. Todo o meu conhecimento (ou meu quase-analfabetismo) advém de músicas, programas de TV, filmes e jornais. Eu não passo aperto, entendo tudo que me falam, inclusive os nativos da língua. Mas não sou capaz de elaborar sentenças complexas. Leio bem, escrevo medianamente, mas falar me põe em uma situação engraçada, pois, além de gago, fico inseguro. Ainda bem que não cometi nenhuma gafe até agora. Porém aposto que o pessoal fica rindo pelas minhas costas e pensando: Ó paí, que lapa de ignorante. Sabe nem conjugar os verbos. O bichinho deve estar com fome, pois come todos os plurais.

Cansado de tanto assunto sem graça? Não se aperreie, agradeço-lhe a atenção e, para tentar retribuir a gentileza, falarei sobre minhas andanças.

Entre mais jantares, laricas e rega-bofes, viajei (de trem, com uma galera cantando, outra galera tocando e outra galera pedindo para tirar foto com Ana, Solange, Martyna e eu) nesse final de semana para Ajmer e Pushkar. A primeira é uma cidade ao sudoeste de Jaipur e a segunda, um distrito daquela. Imagino que você esteja exausto de saber que a Índia é conhecida por todo seu misticismo e espiritualidade. De quinze em quinze dias o “Globo Repórter” faz uma matéria “exclusiva” sobre os enigmas deste lugar. Os outros programas são sobre a Amazônia e o Pantanal (bem abrangente o programa, né? Diversificado que só). Entretanto, ir a lugares sagrados, independente da religião, é incomparavelmente mais impactante. Ajmer é famosa por fazer parte da cadeia de montanhas conhecida por Aravalli Range, que se estende da casa de cacete até a puta que los pariò.Também é um dos mais populares destinos de peregrinos muçulmanos, já que lá está localizado o Dargah Khwaja Saheb, um santuário fundado pelo mais famoso santo Sufi (a corrente mística/comtemplativa do Islã) do subcontinente indiano. Moinuddin Chishti introduziu e estabeleceu a ordem Chishti no sul da Ásia, o que significa que ele é penico cheio. Né pouca merda não, vu? A mesquita é GIGANTE, mas, para minha frustração, parece muito uma feira-livre, no sentido comercial da palavra. Há muita devoção no local, mas também muito crowd, muita bagunça e muito empurra-empurra. No quesito “infregação”, o carnaval de Olinda tem muito a aprender com os indianos. Essa é uma das partes chatas aqui. Não adianta entrar em fila ou pedir licença. A figura toma a sua frente na maior cara de pau e tá pouco se lixando se você vai ficar com raiva. Até entendo um pouco essa atitude, afinal, para se viver num país com MAIS DE UM BILHÃO DE HABITANTES, as pessoas procuram estratégias de sobrevivência. É discutível, lógico, mas nós furamos fila de supermercado (não eu ou você, tô falando da maioria dos brasileiros que eu conheço), logo, temos cacife zero para abrir o bocão. Poderia falar que é um “jeitinho brasileiro” MUITO mais escrachado. Além do santuário, Ajmer possui um lago bem bonito (mas só pra tirar foto. O bagulho é sujo que faz pena), cercado por montanhas e cravado no meio de um parque bastante arborizado. Só, acabou-se a cidade. De lá, partimos de ônibus para Pushkar, situada a onze quilômetros de distância apenas. O nome do distrito significa “Nascida por causa da flor”. Quando os deuses queriam abençoar uma cidade, deixavam cair uma flor de lótus no lugar. Essa a é origem da alcunha, pelo que me falaram (e pelo que eu li na wikipédia). Nesse pico, está um dos únicos cinco templos existentes na TERRA dedicados a Brahma, o deus da criação (e inventor da famigerada Brahma Fresh, aquela mierda). Todos os outros foram devastados por guerras, religiosas ou seculares. Por esse caráter singular, é um dos cinco lugares sagrados de peregrinação dos Hindus, que hoje têm de dividir o espaço com centenas de gringos que só querem comprar lembrancinhas (cuidado com os comerciantes, eles tiram onda quando o assunto é se aproveitar dos turistas), comer e fumar um cigarro de artista. Verdade, lá existem diversos pontos em que o indivíduo pode fazer a cabeça. Contudo, não são recomendados, absolutamente. E outra coisa, para que uma pessoa iria perder tempo (e dinheiro) parada em um buraco suspeitíssimo, quando poderia estar caminhado por entre as indescritíveis ruelas ou visitando construções que nasceram antes de Dercy Gonçalves? Mas essa é a minha opinião.

Sobre a idade das coisas aqui, gostaria de lhe falar o seguinte: pernambucano é cheio de góga, porque Recife e Olinda têm “história”, porque nossos monumentos têm 450 anos e pá. O turista vai a Itamaracá e a galera fica falando: “esse aqui é o Forte Orange. Pense num negócio antigo, mago. É da época dos holandeses, visse? Dá pá tu?” Humildade nessa hora seria mais prudente. A casa de um cara que eu conheci é mais velha do que o DESCOBRIMENTO DO BRASIL. Há lugares que foram erguidos no século XII antes de Cristo. Segura essa besteira agora, criança. O passeio ainda incluiu uma visita ao lago sagrado, com direito a bênçãos de um sacerdote do templo. Veja bem, sou um cara meio esquentado, geralmente perco a paciência com muita facilidade. Nesse sentido, a Índia tem me feito muito bem. Acontece que a tal bênção era paga e ninguém me avisou. Olhe, se quiser abençoar, tá de boa. Pode levantar a mão, pode me tocar, pode me chamar para dançar, enfim, fique à vontade para fazer munganga. Mas num cobre não. Eu sou radicalmente contra qualquer forma de pagamento compulsório a instituições religiosas. Ponto. Isso eu não discuto. Quando o caboclo terminou o ritual, virou cinicamente para mim e disse: “Ô, amado, a gente não trabalha, nosso ofício é espalhar a proteção dos deuses. Temos várias famílias para sustentar aqui. Então, contribua comigo, vá. Nem se afobe, porque a gente aceita EURO E DÓLAR TAMBÉM. Como você é simpático, vou cobrar só cinco mil Rupis (tipo, quase OITENTA DÓLARES)”. Aí, infelizmente, eu peguei ar. Cheguei no pé do ouvido dele e falei: “Meu senhor, se ligue na vida. Faça isso não que é feio. Vou pagar 500 rupis, porque quero ajudar na manutenção do templo”. Ele ficou meio errado e me perguntou se eu havia ficado contente com a bênção. Lógico! A bênção foi limpeza, ruim foi sentir aquela raiva em um lugar tão especial. Dei uma morgada monstra durante um tempo, mas depois resolvi esquecer, pois não valia a pena estragar o dia. Peguamos um busão, na volta, e chegamos às onze e meia do domingo em casa. Eita canseira boa.

Ontem,segunda-feira, fui a um show de “Puppets” (mamulengo, para ficar fácil de entender) no centro da cidade. Muito delicado, muito bonito. E extremamente engraçado. Os bonecos são bem feitos e as “esquetes”, originais. Tem até uma dancinha do “kama-sutra” com marionetes.

Bem, esse é um pequeno (oi?) registro sobre mais uma semana linda por aqui. Neste momento, despeço-me com muitas saudades de você, grande confidente. De novo, como não poderia deixar de ser, peço-lhe que envie um caloroso abraço para minhas mães. Eu as amo MUITO mesmo. Sinto falta de falar com elas, muita falta. Essa talvez, seja a única coisa que aperta meu coração: a saudade dos meus maiores amores.
Para você, desejo paz e saúde. Até breve!

13 comentários:

  1. Poooxa Barros, eu só acabo chorando nesse blog....
    Mas,como sempre perfeito! Parabéns pirralho!!
    Grande beijo e cuidado!

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    1. Doido pra te dar um abraço e filar teu almoço! ^^
      Um cheiro bem grande na cabeça! Te amo

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  2. E eu aqui achando ruim o comércio no morro da conceição!

    Tô ligando pra D.Aurora agora! ;)

    Se cuida!

    =***

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  3. Oa, Cabei de ligar pra Fátima, ela disse que quer que você entre no facebook pra falar com ela, pra "dizer pelo menos alguma coisa" (palavras dela). Que ela não consegue fazer o comentário aqui pq parece que é só pra quem também tem blog.

    E ela reclamou que você fala com outras pessoas no face, mas não responde a ela. Sabe como é, né? Então veja aí o que você consegue fazer.

    Tua mãe não atende, já liguei que só, daqui a um tempinho ligo de novo.

    xero

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  4. Proooonto! Falei com D.Aurora. Ela disse que tá morrendo de saudade do filho dela. =)

    Amanhã ou quinta a gente se encontra pra ela lero blog. =)

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    1. Valeu pela ajuda, obrigado mesmo, de verdade! Qualquer bronca, mande as ordens, pra eu retribuir o favor. Cheiro!

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    2. Eu poderia dizer que não precisa retribuir, maaaas... Manda um postal e traz uma camisa de time de futebol? =) Diz a conta que eu mando o dinheiro da camisa!

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  5. "Entretanto, ir a lugares sagrados, independente da religião, é incomparavelmente mais impactante."
    Sei exatamente o significado dessa frase, foi o que vivi hoje. Assisti a uma missa numa igrejinha no interior da Eslováquia, não entendi nada, mas só de estar ali, foi inexplicável.
    Continua arrasando, como sempre falo, não canso de ler os teus posts.
    beijo

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    1. Obrigado pelos elogios. Seu blog também está fuderoso, continue com o mesmo espírito e mantenha a mente aberta para viver todas as experiências que a viagem pode te proporcionar. Um cheiro!

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  6. Niel meu filhote, estou com uma saudade danada de você. Me preocupo com a sua saúde,se cuide. Li tudo que você colocou.
    Estou contente porque você tem conseguido se familiarizar com várias pessoas aí. Você é um nordestino arretado. Parabéns por ser o que é.
    Beijos de sua mãe coruja. Te amo.
    Até a próxima.
    Um beijão, Aurora.

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    1. Mainha, eu estou com muita saudade de escutar sua voz (apesar de não parecer, pois ainda não liguei. Não é ingratidão, é falta de oportunidade mesmo, Não tenho cartão de crédito pra colocar crédito no Skype, nem acho "ficha" para fazer ligação internacional). Até agora, não tive nada, pode ficar tranquila quanto a minha saúde. Se eu tenho feito amizades ou me dado bem com o pessoal, é porque minha criação permitiu esse tipo de coisa. Meu orgulho maior é saber que tenho seu apoio e sua bênção. Te amo demais, meu amor! Vê se fica bem e se cuida por aí. Dia 01 de fevereiro chega pra fazer um cafuné na senhora, tá certo? Um cheiro do tamanho da minha saudade! Seu filho coruja (até pq vc não tem outro), Niel.

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  7. Agora chore com esse comentário aí de cima....

    ps: Todo mundo é citado no blog de uma maneira massa, agr vê em que situação eu apareço. Valeu pai. uahuahuahuahauh

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    1. Aí dentro, Dodô. Parece um velho, só reclama! HAHAHAHA! Amo você, meu brother

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