domingo, 25 de dezembro de 2011

Querido leitor,

Eu deveria começar a contar essa história desde o começo, isto é, a partir do momento em que decidi fazer um intercâmbio cujo foco seria a realização de um trabalho voluntário. Mas prefiro iniciar esse relato com a viagem para Jaipur.
Saí do Recife no dia 22 de dezembro, às 18:35h. Embarquei para São Paulo, porque foi de lá que partiu meu voo para Doha, no Qatar, primeiro destino internacional da minha vida. No avião, tudo correu tranquilamente, pelo menos para um voo de doze horas. Além dos acontecimentos rotineiros, que que incluem um menino pequeno fazendo escândalo e interrompendo o sono dos justos e do intercambista que vos escreve e a fila gigante para usar o banheiro, essa parte da viagem ficou marcada pela simpatia do pessoal da Qatar airways, que cuidou para que eu não ficasse sem água e sem o Juanito Andante nosso de cada dia.
Aqui eu abro um parênteses: se você está de bobeira e pensou em ir ao oriente ou à Índia, sugiro comprar revistas ou levar livros, pois demora um pouquinho para atravessar o oceano Atlântico e a África. Vai por mim, eu pensava que o mar acabava um pouco mais à frente do Recife, mas não é bem assim.
Bom, depois de toda uma vida e mais uma reencarnação dentro da aeronave, finalmente aterrissamos em Doha. Deserto é aquele negócio, quente de manhã e frio pesado à noite (mas Jaipur é frio pela manhã, gelado à tarde e freezer do pai de Dyogo e Thyago L'amour, quando tinham a banca, à noite). Guardadas as devidas proporções, lembrei-me do sertão e da variação de temperatura entre noite e dia.
Em Doha, comecei a mostrar a que vim: levei a Trip com Luana Piovani na capa (essa edição, por sinal, ficou arretada) para passar o tempo. Só tinha esquecido que o Qatar é um principado islâmico conhecido por, como posso dizer, seus costumes conservadores. Meu único e querido leitor, quando eu me dei conta da bomba que estava nas minhas mãos, fiquei um pouco nervoso (eu já sou bastante agitado e, nesse momento, só pensava em castração química, deportação genital e outras bizarrices das quais o senhor será poupado de imaginar). Minha sorte foi ter conhecido um brasileiro neurocientista, que é professor/pesquisador no japão, e uma “arrentina” que estava viajando para a Tailândia no intuito de concluir sua monografia. Eles me deram cobertura enquanto eu, desajeitadamente, tentava enfiar Luana em minha bolsa. O susto foi grande, mas, rápido como quem rouba, consegui despistar as autoridades locais.
Agradeci a gentileza convidando os dois para uma xícara de café, paga pelo professor, diga-se de passagem. Terminamos nossas bebidas e nos saudamos com aquele que é o clássico do cinismo em despedidas: “a gente se vê, viu? Pegue meu e-mail pra gente manter contato, tá?” Ãham, senta lá...
Depois disso, fui fazer meu check in. Como era o primeiro da fila, comecei a puxar conversa com o caboclo do atendimento. Falei sobre a dificuldade de se trabalhar em aeroporto, embora nunca tenha pisado em um sem ser por diversão, sobre o clima (tá frio, hein, pai?) e, claro, sobre o Brasil. Pedi para tirar umas fotos do lugar e, quando voltei para a sala de embarque, ele pediu para que eu aguardasse enquanto ele “atualizava” minha passagem. Desnecessário dizer que a minha imaginação fértil como estrume de bode tratou de me convencer de que eu iria ficar em um assento perto do banheiro, quase como um auxiliar de lavabo.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas e, ao entrar no avião, fui recebido pela melhor tripulação que eu já vi, incluindo os filmes da série “Aperte o cinto, que o piloto sumiu”. Depois de muitos sorrisos, encaminharam-me para, segure-se em sua privada (lugar onde costumam ler meus textos, talvez pela similaridade entre o conteúdo escrito e o conteúdo evacuado), a PRIMEIRA CLASSE. Isso mesmo, criança, esta besta aqui foi colocada no espaço mais nobre do teco-teco. Meu amigo, eu só quero lhe dizer uma coisa: João Caminhador do Rótulo Preto foi a coisa mais light que eu consumi. Entre outras regalias, fui brindado com champagne Laurent Perrier, vinhos italianos e franceses, um banquete árabe e uma ressaquinha que permanece até o presente momento.
Agora você pode estar pensando: que lapa de filho de uma pessoa bem quista! Eu também pensaria a mesma coisa, não se preocupe. Só que as pegadinhas ainda não haviam cessado. O camarada que viajou ao meu lado era um indiano gente fina. Tão gente fina e despreocupado que me disse que trabalhava com “beaches”, na Nigéria. Eu, na minha inocência beirando a tabacudisse, retruquei de imediato: “no brasil temos beaches muito bonitas, principalmente em Pernambuco”. Foi a deixa para que ele me pedisse meu e-mail a fim de conversamos melhor sobre esse ramo de negócio. Com a cara mais errada do mundo, percebi que, devido ao seu sotaque peculiar, eu havia entendido uma palavra quando, na verdade, ele queria expressar outra, se é que você me entende. Procurei não puxar muita conversa depois disso e acho que meu amigo sikhi (um tipo de religião em que os homens usam turbante e, geralmente, não cortam o cabelo nem aparam a barba) se deu conta do desentendimento a respeito das “beaches” do Brasil. Dormi o resto da viagem até a chegada em Delhi.
Agora eu chamaria sua atenção para um assunto sério. Ao desembarcar, tenha em mãos o endereço e, se possível, o telefone de seu contato na Índia. O endereço é pedido na “receita federal”, e os cabras fazem cara feia se você não tiver. Não sei se é caso de impedimento para o desembarque no país, mas é melhor evitar estresse, afinal, você não está em Pipa para poder voltar para casa sem preocupação se algo der errado. Já o telefone é útil para que você não precise gastar uma grana no “Plaza Lounge” para ter acesso a internet. O aeroporto todo é coberto por uma “wifi zone”, mas a conexão é paga, meu pirraia.
Nesse momento, estou num café, carregando a bateria da máquina fotográfica, comendo um sanduba vegano mais apimentado do que acarjé da praia do forte, em Salvador, e esperando meu voo para Jaipur. Quando finalmente chegar lá, conto o resto das minhas aventuras em Délhi, que incluem amizades com os oficiais do exército indiano e meus problemas para compreender o sotaque do povo, entre outras coisas. Até breve!

10 comentários:

  1. HAHAHAHAAHA
    isso tá muito bom!
    beacheeeeees!

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    1. Olhe, se tem uma pessoa que eu preciso ver qd eu chegar, é você, meu amo... Opa, quer dizer, meu amigo. é a dislexia hahahahaha

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  2. hahahahahahahaha ô figura, como seria possível ele trabalhar com praias na Nigéria?! hehehe até onde eu sei não dá pra empacotar e enviar uma praia.

    Quer dizer que a paquera com o responsável pelo atendimento rendeu uma primeira classe?! Agora entendo pq tem tanta periguete no mundo. hehehehe

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  3. Hahahhahahahahahaha
    Tá muito massa esse seu relato...tô ansioso para ler o próximo post!!!

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    1. Meu irmãozinho querido, eu quero é sentar pra rir junto com você ( ever as fotos do churrasco de formatura... Bora ver isso aí, né, Digo! Te amo

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  4. que do caralho, dani. Boa sorte ae, meu pirraia.
    abraço

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  5. hahahahah eita que isso vai dar um livro!

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    1. HAHAHAHA! Ninguém colocaria dinheiro pra publicar uma "obra" dessas! Mas só o elogio já pagou meu "trabalho". Um cheiro

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  6. Barros!!!!Estou encantada,orgulhosa e nem um pouco surpresa com seu talento para escrever,descrever e fazer rir...Desde seus 10 anos de idade sei que mais cedo ou mais tarde isto aconteceria...Genial!!!Um grande beijo,Cris e Beto

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