sábado, 31 de dezembro de 2011

Barganhar é preciso, viver, também!

Caro leitor,

Mais uma vez se faz necessário um pedido de desculpas pelo atraso da correspondência. Manter-lhe atualizado sobre as minhas andanças requer disciplina, algo que, a despeito de ter estudado seis anos no Colégio Militar, é difícil de se ensinar a um sujeito hiperativo.

Hoje é 31 de dezembro de 2011, último dia de um ano marcado por ciclos que se encerraram e portas que se abriram. Não acredito em “ano novo”. Assim como Mafalda (a tirinha mais genial após Charlie Brown e Sua Turma), penso da seguinte forma: é o mundo que espera que sejamos melhores no ano vindouro, não o contrário.

Ontem, dia 30, aproveitei uma folga na ONG (está acontecendo um encontro anual onde serão apresentados os resultados dos projetos finalizados. Como não falo Hindi e cheguei há seis dias, a turma falou: Vai filhão, vai pra vida!) para conhecer o centro velho da cidade (que poderia se passar facilmente pela rua das Calçadas ou Rua Nova). Para chegar até lá, fui gentilmente ciceroneado por Rachel, uma americana de Minessota, gente fina bagarai. Pegamos um rickshaw perto de casa, pois é mais cômodo e fica baratinho se você consegue rachar a corrida com alguém. A única observação é: sempre peça para os condutores usarem o “taxímetro”. Como no Brasil, você pode ter surpresas com o preço final da corrida, tá ligado? Saltamos em frente aos dois Bazares mais populares e legais de Jaipur: Bapu Bazaar, que fica do lado direito de quem chega, e Nehru Bazzar, do lado esquerdo.

No primeiro vuco-vuco, você encontrará artigos para celular, artigos para celular e alguns artigos para celular também. Além dessa variedade de produtos, o local é excelente para se comprar roupas, como casacos, jeans e tecidos. Estes últimos são impressionantes. Estampas das mais diferentes formas, cores de (Almodóvar, cores de Frida Khalo, cores) endoidar o cabeção e muito comerciante afim de limpar seu bolso se você não tiver autocontrole ou um limite baixo de cartão de crédito (Graças a Deus, tenho ambos). O momento era propício para a barganha, então, fui a uma das centenas (centenas mesmo) de lojinhas da região com o objetivo de comprar um casaco. É, meu amigo querido, pedi arrego ao frio. ESTILEI! E quando soube que, em Janeiro, teremos a agradável temperatura de 1º, chorei como uma criança desamparada e decidi me render ao consumismo. Após enxugar minhas lágrimas (não sem antes parar em frente ao espelho para checar qual ângulo me favorece mais quando tenho o rosto inchado), adquiri uma jaqueta (que ano é hoje? Alguém ainda fala essa palavra, fora minha mãe?) limpeza, manufaturada pelos melhores costureiros de Jaipur (o que significa que ela vai se arregaçar logo). Após esse arroubo de gastança, fomos, eu e Rachel, para o outro lado, sentir a atmosfera (FREEEESCO!) do Nehru Bazaar. Nesse espaço, estão as lojas de perfume, sandálias (que prendem a sua atenção pela originalidade e acabamento), mais tecidos e vestidos. Put a keep a Real! Esqueci que estava com uma moça e, ao perceber meu erro, já era tarde demais. Passamos o resto do dia entrando e
saindo das lojas, pois Rachel queria dar uma “olhadinha” nas bolsas de couro (e demais artigos feitos com esse material) e nas roupas femininas. Agora, graças a ela, sei tudo sobre cortes e melhores combinações entre os acessórios. Não sei como tinha vivido 25 anos sem conhecer esses segredos da humanidade. Não comemos nada, pois, à noite, Mohsin nos presentearia com outra iguaria da cozinha muçulmana. Na volta para casa, ainda paramos no Big Bazaar, um tipo de extrabom cujas as prateleiras estão escritas em Hindi. Não tinha pão, não tinha chocolate, não tinha miojo de galinha (para as meninas da república). Mas tinha um Suziki à venda na entrada do mercado. Legal, se eu não encontrar um pacote de biscoito, acho que levo um carro no lugar.

Eu sei, nada muito interessante para lhe contar, mas nunca lhe falei que minha pessoa despertava atenção.

Quando retornamos, finalmente, ao nosso adorado lar, só deu tempo de fazer um xixi e trocar de roupa para outra farra gastronômica na casa de Sami. Vixe! Para chegar até lá, dessa vez, foi uma comédia.

Aqui, a barganha é fundamental. Se o cara diz “200 rupis para te levar em Setúbal”, imediatamente você rebate com um: oxe, tá viajando? Eu quero ir de rickshaw, né de jatinho fretado não, mô fi (mas educadamente, sempre. Respeite, de igual forma, TODAS AS PESSOAS). Então ele oferecerá 180 rupis. Não se deixe vencer pela timidez, dê meia volta e finja que vai pegar o beco. Neste momento, o cabra te chamará e falará: tá bom, a gente vê um preço legal pra tu. Pode ser 150 rupis?

Lógico, nem sempre isso dá certo, daí é só esperar outra condução passar e repetir todo o processo, mas com uma malemolência acentuada.

O jantar, novamente, estava inacreditável. Meu senhor, eu fico em transe com a comida daqui (que é apimentada, vu? Se ligue não para não pegar em bomba.). É muito temperada, é muito gostosa, é muito... (desculpe, fui lá fora comprar um samosa, porque esse assunto me despertou uma fome da moléstia). Onde eu estava mesmo? Ah, então, a refeição foi maravilhosa. Estávamos eu, Sami, Tanveer, Mohsin e mais seis meninas que moram na república: Ana e Simone, de São Paulo, Rachel, Ruby, da Austrália, Martina e Sol, uma 'arxentina” “rente buena”. O nome do prato eu não lembro, mas sei que era cordeiro.

Bem, peço licença para me organizar, pois ainda não sei como será meu ano novo. Imagino que este relato não vai te entreter da mesma forma que os anteriores, mas nem sempre a inspiração vem me fazer uma visita.

Saúdo a você, pela companhia e apoio durante esse curto tempo em terras estrangeiras. Se me permitir, gostaria que minhas mães e minha família soubessem que meu amor aumenta a cada dia. Tente explicar a eles a importância da existência dessas pessoas para mim, imaginando a magnitude que sua família tem para você.

Uma última ousadia: um cheiro enorme em seu coração, saudoso amigo. Que 2011 se despeça polidamente e ceda seu lugar aos próximos desafios que iremos encarar em 2012. De preferência, juntos.

11 comentários:

  1. Mesmo sem a visita da inspiração como vc disse(mas eu discordo) você ARRASA Barros!!!
    Tenha um FELIZ ANO NOVO e para que este também fique feliz com vc, APRENDA, APERFEIÇOE-SE e MELHORE cada dia mais.
    Um grande beijo e até amanhã se Deus quiser...

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  2. Considere as palavras acima minha e de Beto
    , afinal fui eu que escrevi e saiu com o e-mail dele :(

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  3. Barros, meu pirraia, Feliz Ano Novo pra e vc...depois relate como é a virada do ano na Índia, não tenho a menor noção de como possa ser!!
    Sucessoooooo
    Aew

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  4. Valeu por ter mudado o plano de fundo aewwww.

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  5. do carai, meu filho. q do carai.
    feliz ano novo pra vc tb. mt saúde, paz e sucesso.
    teu blog é fera demais. só uma coisa...essa samosa tava gostosa?
    hehehehhee
    abração

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    1. Do carai vão ser nossas conversas quando eu voltar, meu querido. Doido pra dar um abraço na sua pessoa! Se ligue na vida e vá na paz

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  6. ótimo post, como já é de costume!
    tudo de bom pra você em 2012!
    arrase em terras indianas :)
    beeijo

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  7. fico feliz que o plano de fundo mudou, minha hipermetropia agradeceu bastante. hahahahahah ;* tô adorando o jeito de tu escreves, é o kerouac de CDU.

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  8. Fuderoso man! Fuderoso!
    Aproveita aih e pede bençaos a Brahma....

    e tente desvendar
    "se você anular sua audição e seus sentidos, o que você ouve?"

    Se você conseguir descobrir com algum guru aih, me diz.

    Abração e feliz agora!

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    1. OOOww, danado, suas palavras chegaram muito bem por aqui!
      Respondendo a sua pergunta: Talvez, quando você anula os estímulos externos, a única coisa que resta é a sua essência. Tente se voltar mais para si mesmo e, quem sabe, descobrir suas verdades. :D

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